Somos veneno e antídoto.
Ignorância é veneno.
Estamos no caminho
Quando estamos em si.
Onde estamos? Onde está?
Conhecimento é antídoto.
Ignorância é veneno.
Estamos no caminho
Quando estamos em si.
Onde estamos? Onde está?
Conhecimento é antídoto.
Cançãozinha para Tagore
Àquele lado do tempo
onde abre a rosa da aurora,
chegaremos de mãos dadas,
cantando canções de roda
com palavras encantadas.
Para além de hoje e de outrora,
veremos os Reis ocultos
senhores da vida toda,
em cuja etérea Cidade
fomos lágrima e saudade
por seus nomes e seus vultos.
Àquele lado do tempo
onde abre a rosa da aurora
e onde mais do que a ventura
a dor é perfeita e pura,
chegaremos de mãos dadas.
Chegaremos de mãos dadas,
Tagore, ao divino mundo
em que o amor eterno mora
e onde a alma é o sonho profundo
da rosa dentro da aurora.
Chegaremos de mãos dadas
cantando canções de roda.
E então nossa vida toda
será das coisas amadas.
* Cecília Meireles em “Poemas escritos na India em 1953”. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1961.
“Prisioneiro” por Rabindranath Tagore – Livro: Gitanjali – Oferenda Lírica
“Prisioneiro, contai-me quem foi que te prendeu?”
“Foi meu mestre” respondeu o prisoneiro, “Pensei que poderia assombrar o mundo com meu poder e riqueza, e acumulei em meu cofre o dinheiro que pertencia a meu rei. Vencido pelo sono deitei-me no leito que estava preparado para meu senhor e, quando acordei, encontrei-me preso em meu próprio cofre”.
“Prisioneiro, contai-me quem foi que forjou essa inquebrantável corrente?”
“Fui eu mesmo”, disse o prisioneiro. “Fui eu que forjei cuidadosamente essa corrente. Pensei que poderia prender o mundo com meu invencível poder, e que isso poderia me deixar em imperturbável liberdade. Noite dia trabalhei nessa corrente com fogos terríveis e duras e cruéis marteladas. Quando terminei o trabalho e os elos estavam completos e inquebráveis, descobri que a
corrente acorrentava a mim mesmo.”