
Uma jovem mulher, Yun Ok, foi até o célebre monge da montanha.
– Ó respeitável sábio – disse ela. – Estou em dificuldades! Faça-me uma poção.
– Tudo bem – disse o sábio. – Qual é sua história?
– É o meu marido. Nos últimos anos, ele esteve ausente, lutando numa guerra. Agora que voltou, quase não fala comigo. Se falo, ele parece não ouvir. Quando abre a boca para falar, é rude. Se lhe sirvo comida, ele não gosta; empurra o prato para o lado e sai da mesa, raivoso. Preciso de uma poção para que ele volte a ser amoroso e carinhoso!
O sábio respondeu:
– Tenho a receita. Mas o ingrediente essencial é o bigode de um tigre vivo.
– O bigode de um tigre vivo! – Disse a moça. – Como vou conseguir isso?
– Se a poção for realmente importante para você, então você terá êxito – respondeu o monge.
A moça foi para casa. Naquela noite, enquanto o marido dormia, saiu furtivamente com uma tigela de arroz e um naco de carne. Chegou a uma prudente distância da caverna de um tigre, estendeu a comida e o chamou para comer. O tigre não veio. Na noite seguinte, fez a mesma coisa, desta vez mais perto da caverna. De novo, nada aconteceu. Todas as noites ela ia à caverna, cada vez se aproximando mais. Pouco a pouco, o tigre acostumou-se com ela. Certa noite, chegou a uma distância da qual se poderia atirar uma pedra na caverna e parou. A moça e o tigre fitaram-se sob a luz da lua. Na noite seguinte, ela se aproximou ainda mais, a ponto de estar tão próxima que poderia falar com o tigre com uma voz muito suave. Pouco depois, o tigre comeu a comida oferecida.
Na outra noite, o tigre a esperava. Depois que ele comeu, ela passou a mão sobre sua cabeça, e ele começou a ronronar. Seis meses tinham passado desde a noite da primeira visita. Finalmente, depois de tê-lo acariciado na cabeça, ela disse: “Ó generoso Tigre, preciso de um dos seus bigodes. Por favor, não se zangue comigo!”. E ela cortou um dos bigodes. O tigre não se zangou, e lambeu-a. Ela correu disparada, com o bigode nas mãos. Exultante, chegou à caverna do eremita: “Ó grande sábio, consegui o bigode do tigre! Agora você pode fazer a poção mágica!”. O sábio examinou o bigode cuidadosamente, satisfeito, porque era mesmo de tigre, e jogou-o na fogueira.
– O que você fez? – Gritou a moça. – Depois de todo o esforço que eu fiz para conseguir o bigode!
– Conte-me como você o conseguiu – pediu o sábio.
– Todas as noites, eu ia à caverna do tigre com uma tigela de comida, para ganhar a sua confiança. Falava docemente com ele, para fazê-lo compreender que só queria o seu bem. Fui paciente. Cada noite, levava comida sabendo que ele não a comeria. Mas não desisti. Nunca falei asperamente, nem o censurei. Finalmente, numa noite, ele andou alguns passos em minha direção. Nas noites seguintes, ele já estava à minha espera e comia mesmo da tigela. Passei a mão na sua cabeça e ele começou a ronronar. Foi aí que consegui cortar o bigode dele.
– Você domesticou o tigre com a sua persistência e amor – disse o sábio.
– Mas você jogou o bigode do tigre no fogo! Foi tudo a troco de nada! – Lamentou-se ela.
– Não, não foi tudo a troco de nada. Você não precisa mais do bigode. Será que o seu marido é mais feroz que um tigre? Será que ele é menos sensível ao carinho e à compreensão? Se você foi capaz de ganhar a confiança de um animal selvagem e sedento de sangue, usando suavidade e paciência, certamente poderá fazer o mesmo com o seu marido!
Yun Ok permaneceu emudecida por alguns momentos. Então despediu-se, agradecendo, e foi-se embora, refletindo sobre a grande verdade que havia aprendido do sábio da montanha.
O segredo para lidar com pessoas difíceis é não morder a isca da negatividade delas e deixar que elas mordam a isca de um coração empático e cheio de amor.
Fonte: CasuloBorboleta