
“Se um homem estiver atravessando um rio e um barco vazio colidir com a sua própria embarcação, mesmo que ele seja um homem mal-humorado não vai ficar muito irritado. Mas se vir um homem no outro barco, ele vai gritar com ele para que reme direito. Se o seu grito não for ouvido, ele vai gritar de novo, e mais uma vez começará a xingar. Tudo porque há alguém no barco.
Se o barco estivesse vazio, ele não estaria gritando nem ficaria com raiva. Se você conseguir esvazia o seu barco ao atravessar o rio do mundo, ninguém vai se opor a você, ninguém vai tentar lhe fazer mal. Quem pode se libertar do sucesso e da fama, e descer e se perder em meio à massa humana? Esse fluirá com o Tao, invisível, avançará com a própria vida sem nome e sem lar.
Aparentemente é um tolo. Seus passos não deixam rastro. Não tem nenhum poder. Nada consegue, não tem reputação.
Como não julga ninguém, ninguém o julga. Assim é o homem perfeito: Seu barco está vazio.”
Essa é a sua natureza. Esse é o Tao.
Sanidade significa chegar ao que é natural, chegar ao que é perfeito em você, ao que está escondido atrás do nome e da forma. Muito esforço é necessário porque para cortar a forma, deixar para trás e eliminar a forma, é muito difícil. Você se tornou muito apegado e identificado a ela.
Este campo de meditação, nada mais é que persuadi-lo a seguir na direção do sem forma – como não ficar na forma. Toda forma significa ego; até mesmo um galo tem seu ego, e o homem também tem o seu. Toda forma é centrada no ego.
Não-forma significa sem ego; você não está mais centrado no ego: o seu centro está em toda parte ou em parte alguma. Isso é possível, isso que parece quase impossível é possível, porque aconteceu comigo.
E, quando eu falo, falo por experiência. Seja o que você for, eu fui; e, seja o que for que eu seja, você pode ser.
Uma pessoa sã, portanto, não será ninguém em particular, não pode ser. Só um louco pode ser alguém em particular – seja um galo ou um homem, ou um primeiro-ministro ou um presidente, qualquer coisa, seja o que for. Uma pessoa sã passa a sentir a condição de ser um ninguém.
Todas as civilizações são contra a natureza, porque elas querem fazer de você alguém em particular. E quanto mais você se cristaliza como alguém, menos o divino pode penetrar em você. Todo o esforço é no sentido de dissolvê-lo; todo o esforço é como destruir você. Uma vez destruído, o indestrutível virá à tona – ele está lá, escondido.
Depois que tudo o que não é essencial for eliminado, o essencial será como uma chama – vivo em sua glória total.
Esta parábola de Chuang Tzu é linda. Ele diz que um homem sábio é como um barco vazio. Assim é o homem perfeito – seu barco está vazio, não há ninguém dentro. Se você encontrar alguém como Chuang Tzu, Lao-Tsé ou Buda, o barco estará ali, mas ele estará vazio – não haverá ninguém nele. Se você simplesmente olhar para a superfície, então verá alguém lá, porque o barco está lá. Mas, se penetrar mais profundamente, se conseguir alcançar o centro ou a fonte do ser, se esquecer o corpo – o barco – então você acabará por encontrar um nada.
Chuang Tzu é uma flor rara, porque tornar-se ninguém é a coisa mais difícil, quase impossível, a coisa mais extraordinária do mundo.
A mente comum anseia por ser extraordinária, o que faz parte do ordinarismo. A mente ordinária deseja ser alguém em particular, alguém extraordinário – o que faz parte do ordinarismo. Você pode se tornar Alexandre, O Grande, mas continuará sendo ordinário, comum – então quem é o extraordinário?
O extraordinário só começa quando você não anseia pelo extraordinário.
Então a viagem começou, então uma nova semente brotou.
Isso é o que Chuang Tzu quer dizer quando afirma: “Um homem perfeito é como um barco vazio”. Muitas coisas estão implícitas nisso. Em primeiro lugar, um barco vazio não vai a lugar nenhum, porque não há ninguém para dirigi-lo, ninguém para manipulá-lo, ninguém para encaminhá-lo a algum lugar. Um barco vazio está apenas ali, não está indo a lugar nenhum. Mesmo que esteja se movendo, não estará indo a lugar nenhum.
Se a mente não está ali, a vida continuará a ser um movimento, mas não vai ser dirigida. Você vai se mover, você vai mudar, você será um fluxo como um
rio, mas não estará indo a lugar algum, não terá nenhum objetivo em vista. Um homem perfeito vive sem nenhuma finalidade; um homem perfeito avança, mas sem nenhuma motivação. Se você perguntar a um homem perfeito: “O que você está fazendo? ”, ele dirá: “Não estou fazendo nada, isso é o que está acontecendo”.
Isso está acontecendo, não é algo manipulado. Não há ninguém para manipulá-lo, o barco está vazio.
Se existir um propósito, você vive e em sofrimento. Por que? Um propósito existe para o eu, o ou ego, e significa a mente que vive no futuro. A mente pode viver no futuro, mas não no presente. Se você não vive o presente, você pode ter esperanças e desejos. E é assim que você cria a miséria. Se você começar a viver neste momento, aqui e agora, o sofrimento desaparece.
Mas como isso está relacionado ao ego? O ego é todo o passado acumulado. Tudo o que você conheceu, vivenciou, leu, tudo o que aconteceu a você no passado, o todo é acumulado ali. Todo esse passado é o ego, é você.
O passado pode se projetar no futuro – porque o futuro não é senão o passado estendido. O passado não prevalece sobre o presente – o presente é totalmente diferente, tem a qualidade de ser aqui e agora. O passado está sempre morto, o presente é vida, a fonte de toda a vivacidade. O passado não pode prevalecer diante do momento presente, por isso se transporta para o futuro – ambos estão mortos, ambos são não existenciais. O presente é a vida; nem o futuro pode encontrar o presente, nem o passado pode encontrar o presente. E seu ego, a sua condição de ser alguém, é o seu passado.
A menos que esteja vazio você não pode estar aqui, e a menos que esteja aqui você não pode estar vivo.”
por Osho em O Barco Vazio
Fonte: VentosDePaz