DAT ROSA MEL APIBUS…

Rosa dá o Mel às Abelhas…
“As abelhas somos todos nós que, tal como os alquimistas que Robert Fludd evocava, procuramos o centro, mais do que a superfície das coisas.” SUMMUM BONUM, 1629
No ROSARIUM PHILOSOPHORUM, antologia de textos alquímicos editados em 1550, encontramos citações de Platão, de Arnaldo de Villanova, de Senior, o Ibn Umail que já referi como autor do Corpus Arabicum, entre muitos outros que se dedicaram aos mistérios desta Arte ou desta Ciência conforme os pontos de vista.
O autor deste Rosário, que também podia ser um Roseiral, não esconde que lhe agrada a aproximação aos mistérios da Igreja para definir os mistérios da Pedra Filosofal.
O Tratado encerra com uma gravura em que “a vitória da Pedra é representada como a ressurreição de Cristo”. A intenção não contém heresia, pelo menos propositada, pelo contrário, procura o clérigo, ou o monge que foi autor ou copista testemunhar da sua fidelidade e devoção sem mácula a uma causa de absoluta entrega espiritual.
A procura do Centro, para um religioso é a procura de Deus. Não é Deus o Centro e a Circunferência, o Um e o Todo do universo na sua múltipla manifestação?
O místico é o que sente, quando se entrega a Deus na noite escura da alma (como S.João da Cruz). O alquimista é o que sente quando se entrega no seu laboratório à nigredo que não só contempla na “matéria confusa” como vive na ansiedade da sua própria alma, tendo a noção de que é mesmo da sua alma que se trata e não de qualquer outra coisa, preciosa, eventualmente, mas exterior.
Os que buscaram o ouro morreram sofrendo, sem ele. Os que buscaram a pura luz da consciência atingiram a perfeição, ou ficaram a caminho dela.
Herberto Helder em ÚLTIMA CIÊNCIA (1988) anuncia a sua arte da roseira, a travessia que o afunda no real da palavra como o adepto se afunda no real da “imaginação verdadeira”.
“Pratiquei a minha arte de roseira: a fria
inclinação das rosas contra os dedos
iluminava em baixo
as palavras.
Abri-as até dentro onde era negro o coração
nas cápsulas. Das rosas fundas, da fundura nas palavras.
Transfigurei-as.
….
– Uma frase, uma ferida, uma vida selada.”
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No Jardim de Reguengos (dedicado à Maria):
“Já pesam as romãs semi-abertas
nas romãzeiras molhadas
Caíram as chuvas da tarde
aguardam-se os beijos fatais
que só os Anjos concedem
Bagos vermelhos
em bocas apetecidas
Jardins de Inverno
onde se perdem as vozes
onde se abrem feridas
Onde secretamente
mais árvores são plantadas”
por Yvette Centeno
* Fonte: Simbologia e Alquimia