Um Sol Coração

Onde a vida está? Onde tu és?

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Conto Zen: O Médico e o Zen

Kenso Kusuda, diretor de um hospital em Nihonbashi, Tóquio, recebeu um dia a visita de um velho amigo, também médico, que não via há sete anos.

“Como vai?”, perguntou Kusuda.

“Deixei a medicina”, respondeu o amigo.

“Ah, sim?”

“Na verdade, agora eu pratico o Zen.”

“E o que é o Zen?”– quis saber Kusuda.

“É difícil explicar…” — hesitou o amigo.

“E como é possível entendê-lo, então?”

“Bem, deve-se praticá-lo.”

“E como faço isso?”

“Em Koishikawa, há uma sala de meditação dirigida pelo Mestre Nan-In. Se quiser experimentar, vá até lá.”

No dia seguinte Kusuda dirigiu-se à sala de meditação do Mestre Nan-In.

Ao chegar, gritou:

“Com licença!”

“Quem é?” responderam lá de dentro. Um velho de aspecto miserável, que se aquecia junto a um fogareiro próximo ao vestíbulo, dirigiu-se a ele. Kusuda entregou-lhe seu cartão e o velho, após dar uma olhada, disse sorrindo:

“Olá!!! Faz tempo que o senhor não aparece!”

“Mas… é a primeira vez que venho aqui!” – disse Kusuda, surpreso.

“Ah, sim? É a primeira vez? Como está escrito ‘Diretor de hospital’, pensei que fosse o Sasaki. O que o senhor deseja?”

“Quero falar com o Mestre Nan-in.”

“Já está falando com ele!” disse o velho, abrindo um largo sorriso.

“Então o Mestre Nan-in é o senhor?”, disse Kusuda meio desconfiado. Esperava alguém mais “venerável”.

“Eu mesmo”, respondeu o velho, sem dar mostras de resolver a mandar seu visitante entrar. Já meio desanimado e um tanto desdenhoso, Kusuda decidiu falar ali mesmo, de pé, no vestíbulo:

“Eu gostaria que o senhor me ensinasse a praticar o Zen.”

O velho olhou para ele e disse:

“Praticar o Zen? O senhor é um médico não? Deve então tratar bem de seus doentes e se esforçar para o bem de sua família, o Zen é isso. Agora, pode ir embora.”

Kusuda voltou para casa, sem entender nada. Intrigado com as palavras de Nan-In, três dias depois resolveu visitar novamente o velho Mestre. Nan-In atendeu-o novamente no Vestíbulo.

“Novamente o senhor aqui? O que deseja?”

“Insisto para que o senhor me ensine a praticar o Zen!” – disse Kusuda petulantemente.

“Ora, nada tenho a acrescentar ao que já disse outro dia. Vá embora e seja um bom médico”. E fechou a porta.

Dois ou três dias depois, Kusuda novamente voltou a ver o Mestre, pois absolutamente não conseguira entender suas palavras.

“Outra vez aqui?”

“Eu vim porque não consegui entender suas palavras, por mais que pensasse sobre elas.”

“Pensando nas palavras é que o senhor não vai entender coisa nenhuma mesmo!” – disse o velho monge.

“Então o que eu devo fazer?” – disse Kusuda, já quase desesperado.

“Procure perceber por si, ora essa! Agora, vá embora.”

Mas Kusuda desta vez zangou-se muito e respondeu:

“Por três vezes, embora tenha muitos afazeres, larguei tudo e vim até aqui pedir-lhe para me ensinar o Zen e sempre o senhor me manda embora sem me dar o mínimo esclarecimento! Que espécie de mestre é o senhor, afinal!?!”

“Ah! Finalmente ele zangou-se!”, exclamou o Mestre.

“Mas é EVIDENTE!”, desabafou o médico.

“Então agora chega de palavreado e seja educado! Faça-me uma saudação.”

Encarando fixamente o velho monge, Kusuda reprimiu sua vontade de dar-lhe um soco na cara e inclinou-se em reverência. O Mestre então conduziu-o à sala de meditação e o ensinou a praticar zazen.

Anos depois, Kusuda finalmente entendeu porque o Zen também é cuidar bem dos doentes e esforçar-se para o bem de sua família.

Meu insight do momento: Enquanto ignoramos como é, reprimimos o que há, enquanto dissimulamos o que nos consome… Não há caminho, mas apego ao sofrimento…

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Conto Zen: Vem…

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Mestre Tokusan (742-865) estava sentado em zazen à beira do rio.

Avizinhando-se da margem, um discípulo gritou-lhe:

– Bom dia, mestre! Como estais?

Tokusan interrompeu o zazen e, com o leque, fez sinal ao discípulo:

Vem . . . vem . . . !

Levantou-se, deu meia-volta e pôs-se a ladear o rio, seguindo o curso da água…

O discípulo, nesse instante, experimentou o Satori.

Legítima Vontade

“…a casa do tesouro naturalmente se abrirá e vocês poderão se servir à vontade.”  Mestre Dogen

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…o brio

na equidade:

equilíbrio…

 

Vontade é força matriz… Tua vontade é a força motriz…

Mandálico Ser

Oração… Unir-se ao coração.

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Entoar mantras… Vibrar harmonizando chakras, conduzindo ao estado de meditação…

A atenção continuada, a plena presença, o estado desperto, meditativo, a fluida e consciente respiração… une o princípio (inspiração) ao fim (expiração), sendo inteiramente o meio (contemplação)… em meio a tudo e todos: todo silêncio… frescor de compaixão…

Um som, o silêncio, a respiração… Realizar a União… de Coração e Mente, Corpo e Alma… Num só Espírito, Um-Todo Caminho, uma Consciência em si Universal…

 

* Imagem: “Mandala de Mantra Yin Yang”

Espaço Repleto

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Ser tudo o que for capaz… Ser um com a paz…

 

“Está escrito no Sutra do Coração que por ver a vacuidade você liberta a si mesmo, mas isso é apenas a metade. Para usarmos uma metáfora, a vacuidade é como um espelho e um espelho está sempre vazio, mas ao mesmo tempo, todo o mundo está dentro dele. Para o caminho Budista ter nada é ter tudo, essa é a verdade sobre nós mesmos. Se vocês realmente entenderem isso indo profundamente dentro de vocês mesmos, poderão ir além, uma vez que ganho e perda, vida e morte não representarão nada, pois vocês serão um com o universo. Não haverá divisão entre eu e os outros, entre sujeito e objeto. Se vocês realmente virem isso, poderão apreciar suas vidas. Digo até que poderão apreciar seus sofrimentos, pois a raiz do sofrimento pode ser cortada e cortar a raiz é importante, pois só assim poderão aceitar todas as coisas, inclusive a morte. Morte e vida, ganho e perda, eu e os outros são apenas uma ideia dentro da mente e o verdadeiro “eu”, está além desses conceitos em nossas mentes.

Muitas pessoas me perguntam se Budismo é compaixão. Posso dizer que isso seja verdade, mas só se vocês virem que não há divisão entre vocês e os outros, só assim poderão cuidar dos outros como cuidariam de vocês mesmos. Sem essa verdadeira experiência, a compaixão será apenas um entendimento intelectual, mas o Zen não é uma compreensão mental e sim é ter uma verdadeira experiência. Para alcançar esse entendimento usamos o zazen e através dele poderemos ter a verdadeira apreciação da vida. Quer vocês entendam ou não, poderão sentir a base da unidade.” Saikawa Roshi

“Quietude” – Shunryu Suzuki

“Para o estudante Zen uma erva daninha é um tesouro.”

Há um poema Zen que diz: “Depois que o vento cessa, eu vejo a flor que cai. Por causa do pássaro que canta, descubro a quietude da montanha”. Antes que algo aconteça no reino da quietude, nós não sentimos a quietude; só a percebemos quando algo a perturba. Há um ditado japonês que diz: “Para a lua, há nuvem; para a flor, vento”. Quando vemos parte da lua encoberta por uma nuvem, uma árvore ou uma planta, percebemos melhor quão redonda ela é. Quando vemos a lua clara sem nada que a encubra, não percebemos sua redondez do mesmo modo que a percebemos ao vê-la através de alguma outra coisa.
Quando em zazen, você está dentro da completa quietude de sua mente: você nada sente. Está apenas sentado. Mas a quietude que provém desse sentar irá encorajá-lo na vida cotidiana.
Assim, você achará de fato o valor do Zen no dia-a-dia, mais do que quando se senta. Porém, isto não significa que você deva negligenciar o zazen. Muito embora nada sinta quando sentado, se não tiver essa experiência do zazen, você nada encontrará em sua vida diária exceto plantas, árvores ou nuvens: você não verá a lua. Eis por que está sempre reclamando de algo. Mas, para o estudante Zen, uma erva daninha – que para a maioria das pessoas nada vale – é um tesouro. Com tal atitude, o que quer que você faça, sua vida se torna uma arte.
Quando você pratica zazen não deve procurar atingir nada.
Sente-se na completa quietude da sua mente e não busque apoio em coisa alguma. Mantenha o corpo reto sem inclinar-se ou apoiar-se em nada. Manter o corpo reto significa não contar com nada. Dessa maneira, você obterá completa quietude, física e mental. Contar com alguma coisa ou tentar fazer algo no zazen é dualismo; não é quietude total.
Na vida diária, geralmente estamos tentando fazer algo, tentando transformar uma coisa em outra ou atingir algo.
Essa tentativa é, em si mesma, expressão da nossa verdadeira natureza. O sentido reside no próprio esforço. Temos de descobrir o sentido do nosso esforço antes mesmo de atingir algo. Por essa razão, Dogen disse: “Devemos alcançar a iluminação antes de alcançá-la”. Não é depois de atingir a iluminação que descobriremos seu verdadeiro significado. A própria tentativa de fazer alguma coisa já é iluminação. Quando estamos em dificuldades ou em desgraça, aí temos iluminação. Quando afundados na lama, aí devemos conservar a serenidade. Achamos muito difícil viver na fugacidade da vida, mas é só dentro da fugacidade da vida que podemos achar a alegria da vida eterna.
Prosseguindo na prática com tal compreensão, você poderá aperfeiçoar-se. Mas, se tentar atingir algo sem essa compreensão, não conseguirá trabalhar sobre isso de forma adequada. Você perderá a si próprio na luta pelo seu objetivo; nada alcançará e continuará a sofrer em meio a suas dificuldades. Com a correta compreensão, poderá fazer algum progresso. Então, faça o que fizer, ainda que não seja perfeito, isso estará baseado na sua natureza mais íntima e, pouco a pouco, alguma coisa será alcançada.
O que é mais importante: atingir a iluminação ou atingir a iluminação antes de atingi-la? Ganhar um milhão de dólares ou desfrutar a vida aos poucos com seu próprio esforço, ainda que seja impossível ganhar aquele milhão? Ter sucesso ou encontrar algum sentido em seu esforço para ser bem-sucedido?
Se você não sabe a resposta, não será capaz de praticar zazen; se a sabe, terá encontrado o verdadeiro tesouro da vida.

Trecho do livro Mente Zen, Mente de Principiante – SHUNRYU SUZUKI 

“Repetição” – Shunryu Suzuki

“Se você perde o espírito de repetição, sua prática se torna bastante difícil.”

”No início, ele (Buda) estudou o método hindu vigente em sua época e região e praticou o ascetismo. Mas o Buda não estava interessado nos elementos que constituíam o ser humano, nem tampouco nas teorias metafísicas da existência. O que, sim, o interessava era saber como ele próprio existia naquele exato momento.

Essa era a questão. O pão é feito de farinha. A coisa mais importante para o Buda era saber como a farinha vira pão ao ser colocada no forno. Seu maior interesse era saber como podemos nos tornar iluminados. A pessoa iluminada é alguém perfeito, cuja conduta é desejável tanto para si mesma como para os outros.

O Buda queria descobrir como os seres humanos desenvolvem esse estado ideal – como os sábios do passado tinham se tornado sábios. Para descobrir como a massa se transforma em pão perfeito, ele fez o pão repetidas vezes até que obteve êxito.

Talvez se possa achar pouco interessante cozinhar repetidas vezes a mesma coisa, dia após dia. Pode parecer tedioso. De fato, se você perde o espírito de repetição, sua prática se torna bastante difícil, mas não será difícil se você estiver cheio de força e vitalidade. De qualquer modo, não há como ficar inativo; é necessário fazer alguma coisa. Portanto, quando fizer alguma coisa, seja atento, cuidadoso e alerta. Nosso caminho é colocar a massa no forno e observá-la com cuidado. Uma vez que você souber como a massa se transforma em pão, você entenderá a iluminação. Nosso maior interesse, portanto, é saber como este corpo físico se transforma num sábio. Não nos preocupa saber o que a farinha e a massa são, ou o que é um sábio. Um sábio é um sábio. Explicações metafísicas sobre a natureza humana não são a questão.

Assim, o tipo de prática que enfatizamos não pode se tornar demasiado idealista. Se um artista se torna muito idealista, acaba se suicidando, porque há um imenso vão entre seu ideal e sua real habilidade. E ele entra em desespero porque não existe ponte suficientemente extensa para cobrir esse vão. Esse é o caminho espiritual comum.

O nosso caminho espiritual não é tão idealista. Todavia, em certo sentido, devemos ser idealistas – devemos pelo menos estar interessados em fazer pães bonitos e saborosos. A verdadeira prática consiste em repetir sem cessar até descobrir como se tornar pão. Não há segredo em nosso caminho. Apenas praticar zazen e colocar-nos no forno é nosso caminho.”

Trecho do livro Mente Zen, Mente de Principiante – SHUNRYU SUZUKI 

“Zen e Empolgação” – Shunryu Suzuki

“Zen não é uma espécie de empolgação, e sim concentração em nossa rotina diária.”

“(…) Basta continuar a prática de maneira calma e regular e seu caráter irá sendo construído. Se sua mente estiver sempre ocupada, não terá tempo para essa construção e o esforço será estéril, sobretudo quando se empenhar nisso com demasiado afinco. Construir um caráter é como fazer pão – é necessário misturar os ingredientes pouco a pouco, passo a passo, e requer uma temperatura moderada.

Você se conhece e sabe qual a temperatura que lhe é necessária. Sabe muito bem do que precisa. Mas se ficar muito empolgado, acabará esquecendo a temperatura que lhe é adequada e perderá seu próprio caminho. Isso é muito perigoso.

O Buda fez a mesma observação a respeito do bom boiadeiro. Ele sabe qual o peso que o boi aguenta e evita sobrecarregá-lo. Você conhece seu caminho e o estado de sua mente. Não se sobrecarregue. O Buda também disse que construir um caráter é como construir uma represa. Deve-se ter muito cuidado ao erguer o muro de contenção. Se for feito precipitadamente, a água vazará. Levante o muro com cautela e terá uma boa barragem para sua água.

Nossa maneira de praticar sem empolgação pode parecer um tanto negativa. Mas não é. Trata-se de uma forma sábia e efetiva de trabalhar sobre nós mesmos. É muito simples. Considero esta questão difícil de as pessoas compreenderem, especialmente as mais jovens. Por outro lado, pode parecer que estou falando de realização gradual. Tampouco é isso. Na verdade, este é o caminho imediato, pois, quando sua prática é calma e regular, a própria vida diária é iluminação.

Trecho do livro Mente Zen, Mente de Principiante – SHUNRYU SUZUKI 

“Respiração” – Shunryu Suzuki

“Aquilo que chamamos ‘eu’ não é mais do que uma porta de vaivém, que se move quando inalamos e quando exalamos.”

Tozan, um famoso mestre Zen, disse: A montanha azul é o pai da nuvem branca. A nuvem branca é o filho da montanha azul. O dia todo eles dependem um do outro, sem que um seja dependente do outro. A nuvem branca é sempre a nuvem branca. A montanha azul é sempre a montanha azul”.

Eis uma pura e clara interpretação da vida. Pode haver muitas coisas como a nuvem branca e a montanha azul: homem e mulher, mestre e discípulo. Dependem um do outro. Mas a nuvem branca não deve ser importunada pela montanha azul. A montanha azul não deve ser importunada pela nuvem branca. Elas são totalmente independentes e, não obstante, dependentes. E assim que vivemos e é assim que praticamos zazen.

Quando nos tornamos verdadeiramente nós mesmos, nos tornamos somente uma porta de vaivém: somos inteiramente independentes e, ao mesmo tempo, dependentes de todas as coisas. Sem ar não podemos respirar. Cada um de nós está no centro de miríades de mundos. Estamos no centro do mundo, sempre, momento a momento. Assim, somos completamente dependentes e independentes. Se você tem este tipo de experiência, este modo de existência, você tem absoluta independência; não será importunado por coisa alguma.

Portanto, quando você pratica zazen, sua mente deve estar concentrada na respiração. Este tipo de atividade é a atividade básica do ser universal. Sem esta experiência, sem esta prática, é impossível atingir a plena liberdade.

Trecho do livro:  Mente Zen, Mente de Principiante – Shunryu Suzuki

“Apenas reagir não transforma”

Maneiras de sentar-se para praticar Zazen.

sem pensar e sem não-pensar

sentar-se calmaMente

em si, além de ti, o zen estar.

“Torne-se um com o uno sendo a respiração, a postura correta e a vida do universo em constante fluir.”

“Zazen literalmente significa Sentar Zen. Zen é uma palavra que vem do Sânscrito Dhyana ou Jhana e significa um estado meditativo profundo. Geralmente não chamamos o Zazen de meditação, pois o verbo meditar é transitivo direto, ou seja, requer um objeto. Meditar sobre a vida, meditar algo. Enquanto que o Zen é intransitivo. Não há objeto de meditação. Até o sujeito desaparece. E quando isso acontece o Caminho se manifesta em sua plenitude.” Monja Cohen

Instruções da Monja Cohen de como praticar o Zazen